A Oferta ao Senhor

Pois maldito seja o enganador, que, tendo animal no seu rebanho, promete e oferece ao Senhor uma coisa vil; porque eu sou grande Rei, diz o Senhor dos Exércitos, o meu nome será tremendo entre as nações. Malaquias 1:14

O texto que lemos nos fala sobre a oferta ao Senhor. Trata de uma queixa do próprio Deus, através do profeta, quanto ao que era trazido ao altar pelos israelitas da época de Malaquias. Apesar de ser um texto muito antigo, o apóstolo Paulo recomendou severamente: Não desprezeis as profecias (1 Tess. 5:20).

A rigor, ofertar é uma atitude que o ofertante toma visando mostrar sua gratidão ou obter algum benefício. É, fundamentalmente, uma troca – às vezes antecede a contrapartida, às vezes a sucede, isto é, pode representar tanto um pedido de um bem, serviço ou favor, como um agradecimento por já havê-lo alcançado.

A primeira oferta de que se tem registro foi a que fizeram Caim e Abel. Essa antiga história nos ensina que o ofertante deve buscar a vontade, não a sua própria, mas daquele a quem a oferta é dirigida. Enquanto Abel se ateve ao que entendeu ser o que Deus queria receber, Caim, por sua vez, decidiu ofertar aquilo que pareceu bem aos seus próprios olhos. Sendo a primeira das ofertas registradas na Bíblia, pode nos fazer entender que esse é um princípio basilar: atender à vontade do ofertado, no caso, o Senhor.

Porém outros textos bíblicos nos levam ao entendimento de que não bastava ser um animal, ainda que fosse um dos que estavam listados na lei mosaica. Deus coloca em questão, através do escritor do último livro do Velho Testamento, que além do tipo de oferta, era necessário atentar para a qualidade dela e este é nosso ponto principal aqui.

Podemos perceber que o Senhor avalia a qualidade do que lhe é ofertado. Sendo o Senhor o Rei dos reis, não haveria de se contentar com uma oferta inferior à que o ofertante faria a um mero governador ou mesmo a um príncipe. Oferecer um animal cego ou portador de qualquer outro defeito seria, certamente, considerado uma afronta àquela autoridade.

Todavia o ofertante médio daquela época parecia não se importar com isso e o culto havia se tornado uma mera formalidade, uma rotina religiosa sem maiores consequências. O protesto de Deus pelo profeta visava corrigir isso e trazer novamente à consciência do povo a importância e a seriedade das coisas com que eles estavam lidando.

Quando os filhos de Eli feriam as ofertas do povo antes que chegassem ao altar – e assim apareceriam defeituosas – o Senhor se refere a isso como “coices contra o sacrifício, contra a minha oferta” (1 Samuel 2:29). Deus os matou para que, mais uma vez, o povo entendesse quão a sério Ele considerava a oferta no altar.

Na Torá, Deus faz uma exigência que parece meio sem sentido, à uma primeira vista: Ele diz: Todo primogênito é meu! (Números 8:17 e outros). Era um meio de o Senhor reforçar o entendimento de que nós devemos a Ele o melhor. Não que os primogênitos, em si, sejam melhores que os outros filhos ou animais de uma ninhada. É porque representavam o vigor, a força – como aparece em Gênesis 49:3:

Rúben, tu és meu primogênito, minha força e o princípio de meu vigor, o mais excelente em alteza e o mais excelente em poder.

O primogênito de tudo, o Senhor Jesus, é, desde sempre, do Pai e os filhos de Israel deveriam consagrar (entregar) a Deus “tudo que abre a madre” (Êxodo 13:2).

Pais de dois ou mais filhos, pelo menos a grande maioria dos que conheço, confessam haver dedicado muito mais atenção aos momentos especiais do primeiro filho, seja um aniversário (sempre tem mais fotos…), ou uma festa de final de ano na escola, etc…

O resumo dos mandamentos que envolvem esse assunto é, portanto: O melhor é do Senhor. Note bem: já é d’Ele, Ele só espera que eu e você não lhe “roubemos” isso.

O conceito de oferta, no entanto, pode ser expandido a uma compreensão mais ampla. De alguma maneira estamos sempre “ofertando” o que temos em troca do que buscamos. Se buscamos instrução, devemos ofertar nosso tempo, atenção e esforços aos estudos. Se queremos prosperar nos negócios, ofertamos, dentre outros recursos, tempo ao nosso labor.

Há, porém, de se considerar um ponto importante. Um grupo de alunos com a mesma média intelectual, numa mesma sala, com o mesmo material didático e com uma mesma carga horária, pode apresentar resultados muito diferentes se dedicarem diferentes graus de atenção, de fato, aos estudos. Assim também a qualidade do tempo e da atenção que dedicamos (ofertamos) vai interferir decisivamente no sucesso da nossa empreitada.

Transferindo, portanto, nosso raciocínio para a esfera da vida espiritual, entendemos que o tempo que ofertamos a Deus também é avaliado por Ele. A pergunta a responder é: como anda a qualidade do tempo que estamos ofertando ao Senhor? Lembre-se: Ele é dono e merecedor do princípio das nossas forças e do nosso vigor.

Voltando à queixa inicial deste nosso pequeno tratado: Ai daquele que, tendo animal sadio, oferece animal defeituoso. Por extensão: Ai daquele que, tendo tempo de qualidade, oferece ao Senhor o tempo que sobra, quando já está cansado, distraído, irritado e qualquer outro defeito que nosso tempo e atenção possam ter.

Pense nisso: avalie – não a quantidade mas – a qualidade do tempo que você tem empenhado na sua relação com o Senhor: na leitura atenta e cuidadosa das Escrituras, na oração – aquela que se faz a sós, em lugar secreto e visando o bem estar da sua família e da igreja, não somente quando as coisas “apertam”. É essa oferta que parece muito especial aos olhos do Senhor. Ela deve traduzir o “nosso melhor”, o “princípio da nossa força”.

A não ser, claro, que o Senhor não esteja em primeiro lugar e Seu Reino não seja nossa prioridade, porque aí o problema é bem outro…

Florianópolis, maio de 2023

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