Jonas – capítulo 1 – O grande peixe

Vou começar aqui hoje uma série de posts sobre o livro de Jonas. Claro que não é meu propósito esgotar o livro. Proponho comparar o caminho do profeta com o nosso caminho na presença do Senhor. Vamos lá:

Já falamos sobre esse profeta aqui e aqui mas hoje vamos relacionar o primeiro capítulo com a nossa própria condição lá, no início da caminhada com Deus.

O que você sabe sobre Jonas? A única informação que o livro nos traz é de que ele era filho de Amitai. Aliás, uma possível tradução do nome Amitai é “minha verdade”. Cada um tem a sua própria “verdade”. Por isso somos naturalmente rebeldes, desobedientes a Deus. Somente essa característica de Jonas nos é apresentada pelo texto bíblico. Não sabemos se era rico, pobre, culto, inculto, pai de filhos ou mesmo se era casado. Mas temos a certeza de estar diante de um desobediente. Assim a história de Jonas encaixa na minha e na sua história: somos naturalmente rebeldes, insisto.

Deus tinha um caminho pra Jonas. Ele escolheu – pois era livre – outro caminho que lhe pareceu bom. Se lesse o livro de Provérbios, se lembraria de que há caminho que ao homem parece ser bom, mas seu final é a morte. E começou a descer. Desceu a Jope, desceu ao navio, desceu ao porão do navio e, por fim, desceu ao mar. Todo caminho de desobediência a Deus é de descida. Nesse caminho de descida, encontrou um lugar perigosamente confortável: as entranhas do navio. Ali ele tinha a – falsa – impressão de estar seguro diante da terrível tempestade trazida pela mão do Todo-Poderoso, irado contra sua desobediência. Muitos hoje, em sua rebeldia natural, traçam seu próprio caminho e encontram, nas estruturas feitas por mãos de homens, a ilusão de segurança que os faz adormecer. Mas, diz a Bíblia, o navio estava para quebrar-se. Assim estão todas as estruturas humanas, seja a religião, a filosofia, o dinheiro, a cultura, qualquer construção humana que vise trazer para si segurança: estão para quebrar-se sob o juízo do Senhor, que fez o céu, a terra e as fontes das águas.

Mas o capítulo não tem como foco a ira de Deus, tão somente. Sob as águas, escondido ainda, estava o recurso de Deus para o ser humano desobediente, mas tão amado por Ele: o grande peixe, preparado pelo Senhor com o propósito único de salvar Jonas. Chamo sua atenção para a palavra “preparou”. Ou seja, antes de tudo isso acontecer, Deus já tinha um “salvador” aguardando a ordem do Criador para ir ao encontro dele, afinal, ao contrário de Jonas, o peixe era obediente. O peixe obediente “esconde” a desobediência de Jonas da vista do Senhor, por assim dizer. Com isso, o mar da ira de Deus se acalmou. Esse ser vivo, preparado por Deus para esconder e, ao mesmo tempo, proteger Jonas é figura do Corpo vivo do Salvador Jesus, a Igreja Fiel, que nos acolheu e escondeu.

É bem verdade que qualquer que visse o peixe tragando Jonas, pensaria que isso era uma tragédia. Nunca se vira algo assim, como a história de Jonas no ventre do peixe. Não havia como prever um final feliz para isso. Ser “tragado” pela igreja hoje ainda é algo assustador para a maioria das pessoas que olham para ela como se esta fosse um monstro devorador de pessoas, sem entender que Deus a preparou para que ela fosse esconderijo e salvação ao homem, no meio do mar da ira e do juízo do Senhor.

Por fim, quero ressaltar aqui as diferenças entre o navio e o peixe. Enquanto o navio é construído e conduzido pelos homens, o peixe é criado e obediente ao Deus Criador. Enquanto o navio proporciona lugar de repouso para o homem, adormecendo sua consciência, a dinâmica do peixe não deixou Jonas dormir. Ele precisava orar. Precisava lutar para aguardar o momento que Deus tiraria ele daquele aperto. Ao contrário do navio, o peixe permitiu que Jonas passasse pelos abismos mais profundos da vida e permanecesse com vida. A igreja não é o lugar confortável que nossa carne deseja, mas tem todo o recurso para nos preservar a vida e nos ajudar a passar pelos momentos mais difíceis da existência – perdas, lutas, amarguras – enquanto aguardamos o momento em que a ordem de Deus soará e estaremos para sempre em lugar seguro. Aí então iremos, como Jonas, retomar o projeto que Ele tem para nossa existência, que foi interrompido pela nossa rebeldia e desobediência.

No próximo post vamos compreender como a atitude de Jonas nas entranhas do grande peixe traz ensino para o momento em que vivemos. Até lá.

20 comentários sobre “Jonas – capítulo 1 – O grande peixe

  1. Talvez uma possível síntese da história inicial seja a vontade própria de Jonas usurpando a vontade de Deus. No mundo natural, essa “vontade própria” é uma grande qualidade, mas na ordem espiritual, é preciso tornar-se como Paulo: “Fui crucificado com Cristo. Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim”.

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  5. Bela mensagem! Como é edificante entender a mensagem “oculta” dos textos. Isso nos é revelado através do Espírito Santo de Deus! Entendemos aqui que o “Grande”, quando lemos Grande Peixe, narra a grandeza mesmo do projeto de salvação para o homem. O peixe para engolir Jonas deveria mesmo ser grande, mas o Grande narra o que Deus preparou para o homem com todo o seu amor, mesmo o homem descendo tanto, desobedecendo tanto…

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